IDADE, UMA QUESTÃO DE EXPERIÊNCIA
Será a idade de um indivíduo, factor de experiência adquirida ou pelo contrário razão de discriminação social? Esta questão nunca esteve tanto na ordem do dia como nos tempos que correm!
Na realidade, numa sociedade como a portuguesa onde cada vez mais se trata dos nossos "velhos" como se fossem algo que incomoda, desprezando a mais valia que é, sem dúvida, a sua experiência ao longo de uma vida de trabalho nas mais diversas áreas de actividade, só assim se percebe algumas reacções à candidatura de Mário Soares.
Toda a gente de uma forma generalizada reconhecia, antes da perspectiva de uma nova candidatura à Presidencia da República, que Mário Soares era um exemplo de cidadania, coragem e determinação, face ao seu passado político, nomeadamente na contribuição que deu à Democracia portuguesa no que diz respeito à sua defesa, estabilização, consolidação e maturação.
Isto para não falar nos dez anos em que ele exerceu o cargo de presidente da República, mostrando aos portugueses que o poder não tem que ser algo de arrogante, aliás nas melhores tradições do que é ser republicano.
O que choca é que logo que se colocou a perspectiva da sua candidatura, muitos dos que antes idolatravam o seu desempenho na vida política activa, logo saltaram a terreiro defendendo que um homem da sua idade deveria estar quieto e gozar a "velhice" na calma e sob os auspícios da sua Fundação.
Num país que tão mal trata os seus "velhos", e os exemplos estão aí um pouco por todo o lado, basta visitar alguns lares do nosso distrito para logo ter uma fotografia do que é a realidade a nível nacional, uma candidatura de um homem com a experiência de vida e política de Soatres, deveria ser motivo de orgulho e razão de motivação para um combate político sério, fossem quem fuem fossem os adversários que se perfilassem nesse combate.
Não, mais uma vez os valores e argumentos mais mesquinhos da sociedade portuguesa vêm ao de cimo e aquilo que desde o princípio deveria ser um combate digno para todas as partes, está desde já inquinado por uma candidatura de direita, que mais não é do que a candidatura do poder económico que tem vindo a transformar o país, num instrumento de domínio político e económico, que mais do que os interesses do país e da esmagadora maioria da sua população, vê os seus próprios interesses que se traduzem nas sua contas bancárias e nas contas que detêm nos paraísos fiscais.
Basta olhar para as comissões de honra dos dois candidatos, Mário Soares e cavaco Silva, para ver a diferença e a génese das duas candidaturas. Numa, a de Soares, vê-se o que de melhor existe na sociedade portuguesa a nível de cultura, ciência e desporto e oriunda dos mais diversos campos políticos, na outra, a de Cavaco Silva vê-se basicamente ex-ministros do seu tempo de "político não profissional", hoje em lugares chave do poderio económico que domina o país e todo um leque de gestores e patrões dos grandes grupos económicos, incluindo a banca que são quem domina a economia de um Estado fraco, que eles próprios construíram para conseguirem mais facilmente alcançar as posições dominantes que hoje detêm.
E se a candidatura de mário Soares os assusta por alguma razão deve ser. Porque eles sabem que Soares pode ser um travão à sua vontade de pagar uma dívida a Cavaco Silva. A dívida que consiste exactamente no facto de hoje deterem o poder, da forma como o detêm. Conquistado á custa das finanças do país e dos bolsos dos portugueses.
Se hoje os esforços são aqueles que todos conhecemos, para recolocar as finanças públicas no equilíbrio que sempre deveriam ter tido, uma grande parte desse esforço podemos agradecer a Cavaco, aos seus governos enquanto primeiro ministro não profissional e a todos aqueles que fizeram do cavaquismo, a forma mais fácil de atingir os seus mais obscuros desígnios.
Não venham agora chamar a Mário Soares velho. Como dizia há uns dias Mário Mesquita, Soares é mais jovem do que alguns que têm menos dez ou quinze anos do que ele. E é bem verdade.
Quem teve oportunidade de o ver ao vivo nestes últimos dias, como eu tive, pode constatar isso mesmo. Soares está, apesar da idade, pronto para um combate político que será difícil mas para o qual está tão motivado, como aquele que o levou em 1986 à Presidência da República pela primeira vez.
Força Soares!
Crónica publicada no jornal "Povo da Beira" de Castelo Branco em 08.11.2005
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