domingo, fevereiro 12, 2006

UMA PROMESSA CUMPRIDA


Jorge Sampaio acaba o seu segundo mandato cumprindo uma promessa feita: visitar todos os concelhos do país antes de deixar Belém.
Efectivamente, mesmo o concelho de Nelas foi visitado, apesar da luta que ainda não terminou, da freguesia de Canas de Senhorim, que viu Sampaio negar-lhes a hipótese de passarem a ser mais um concelho no universo autárquico deste país.
Não vou aqui abordar da justiça ou não desta decisão da Presidência, numa fase em que o próprio Governo equaciona a possibilidade de rever todas as regras relacionadas com esta matéria, encarando inclusive a necessidade de extinção de algumas freguesias, senão mesmo de alguns concelhos.
O que quero aqui chamar a atenção é para o facto de decisões dos órgãos democraticamente eleitos não poderem ou não deverem ser questionados por formas de luta que ultrapassam as mais elementares regras de cidadania ou violam mesmo o espírito democrático, raiando o desrespeito claro do que é a vida democrática.
Actos de violência oa a ameaça dos mesmos, com o objectivo claro de influenciar decisões políticas, pressionando quem decide, é ilegal e democraticamente reprovável. A luta política faz-se essencialmente do esgrimir de argumentos, mas as decisões políticas acatam-se e respeitam-se sem que se deva desistir de lutar por aquilo em que se acredita, mas respeitando sempre as regras democráticas mais elementares.
O comportamento da população de Canas de Senhorim, ou de alguns dos seus elementos em nome do colectivo, nos dias que antecederam a visita de Jorge Sampaio a Nelas raiou a insubordinação, o que não ajuda a causa que defendem antes contribuem para criar anti-corpos, neste caso como em outros de igual teor.
A Presidência tentou não dar muita importância ao caso mantendo a visita ao concelho de Nelas, mas para se ter ideia das pressões e ameaças para que não o fizesse, houve necessidade de manter os detalhes do programa da visita em segredo, o que me parece também uma atitude menos certa pois dá a ideia de alguma debilidade e insegurança onde ela não devia existir. Posteriormente o presidente da Freguesia de Canas de senhorim veio a terreiro puxar dos galões e numa clara tentativa de conseguir algum crédito político arvorou-se em apaziguador dos ânimos, quando ele é uma figura importante no movimento "Canas a concelho" e um dos responsáveis por atitudes pouco democráticas em todo o processo que este movimento tem vindo a desenvolver. E agora o que se seguirá? Com a nova regulamentação sobre criação, unificação e extinçaõ de freguesias e concelhos, se porventura alguma circunstância inviabilizar definitivamente a criação do concelho de Canas de Senhorim, que farão os Canenses ou os seus representantes? Uma guerra civil? Ou respeitarão democraticamente as decisões de quem tem poderes para as tomar.
Que esta visita sirva de lição a todos. A luta política é imprescindível numa sociedade democrática, mas há limites para as formas de luta desenvolvidas em prol de um desígnio. O limite do comportamento cívico e do cumprimento rigoroso das leis democraticamente aprovadas.
Saber perder é uma das maiores virtudes em democracia!
Crónica publicada no jornal regional "Povo da Beira" no dia 14 de Fevereiro de 2006.

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