terça-feira, julho 24, 2007

REINVENTAR O INTERIOR


Quando em finais de 1993 tomei, conjuntamente com a minha mulher, a decisão de abandonar Lisboa e vir assentar arraiais nesta cidade de Castelo Branco, fi-lo por duas razões essenciais: a primeira para poder oferecer, á nossa filha Joana, uma oportunidde de crescer num ambiente muito mais saudável e seguro e em segundo lugar porque ainda acreditava que era fácil inverter a tendência de desertificação que já se sentia por estas bandas. Estava longe de imaginar que essa desertificação viesse a ser tão acentuada e fundamentalmente que progredisse tão rapidamente.

E é assim que nos encontramos em Abril de 2007, com elevados níveis de abandono das nossas aldeias, com cada vez menos habitantes por metro quadrado, que implica, nesta batalha do Governo de racionalizar os meios e torná-los mais eficazes, o fecho de escolas, a concentração das estruturas públicas regionais, a optimização das urgências com encerramento de umas e criação de outras, o fecho de alguns tribunais e inevitavelmente, num futuro mais ou menos próximo, a extinção de freguesias e concelhos.

Quer isto dizer que o Estado abndona de vez o Interior? Ou que não há futuro para o Interior, seja aqui na Beira, no Alentejo ou no Planalto Transmontano?

Penso que não. Nem uma coisa nem outra!
O que acho verdadeiramente é que os beirões, alentejanos e os trasmontanos não podem ficar quedos e mudos à espera que o Estado lhes aponte caminhos porque isso não irá certamente acontecer. E não vai acontecer porque ninguém tem uma solução milagrosa para inverter o actual estado de coisas e estas coisas não se fazem por decretos.
É pois necessário que sejam as gentes do Interior a pensar as suas próprias regiões, cidades, vilas e aldeias. Pensar como reiventar o Interior. Em conjunto! Em rede como agora se diz! Fazendo experiências! Inovando! Criando emprego! Motivando as pessoas a virem e a ficar!
É um trabalho árduo e difícil. Tão difícil quanto difícil é fazer algo que desconhecemos. Mas é essa característica do desconhecimento que torna a tarefa ao mesmo tempo tão aliciante.
Esta tarefa não pode ser só do sector político das sociedades regionais. Tem obrigatoriamente de contar com o empenhamento do maior número de pessoas. Empresários, professores, políticos, juventude, intelectuais, trabalhadores, donas de casa e todos aqueles que sintam que vale a pena viver aqui, criar raízes neste Interior tão abandonado, mas ao mesmo tempo tão sedutor.
O meu contributo comecei a dá-lo há treze anos atrás, quando decidi vir com armas e bagagens de Lisboa para cá. Por aqui tenho andado, participando nos desafios que a vida me tem colocado á frente, com a certeza que contabilizando os prós e os contra, o saldo é seguramente positivo.
Falta agora o trabalho de, pensar para reiventar o Interior, assegurando-lhe um futuro pródigo em acontecimentos de desenvolvimentos felizes!
Esta minha crónica pretende ser o ponto de partida para essa reflexão necessária, importante, mas que tem ao mesmo tempo que ser imaginativa.

Vamos a isto!

Fiquem bem e tenham vontade de viver no Interior!
Crónica publicada em Abril 2007 no jornal "Povo da Beira" de Castelo Branco


1 Comentários:

Às 3:33 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

De facto é necessário não só reinventar o interior com medidas urgentes e imperativas não só do governo, mas dos municipios e especialmente dos cidadãos. Somos nós enquanto povo que construímos o nosso futuro! Sou uma cidadã de Lisboa, de uma Lisboa também desertificada. Não é só o interior que sofre abandonos. Lisboa é hoje cada vez mais uma cidade fantasma.
No passado 15 de Julho,tive oportunidade de estar presente nas mesas de voto ao municipio de Lisboa. E é de facto uma vergonha para a cidade,mas também para o país que tenhamos níveis de abstenção tão elevados. Será os pais de agora não transmitem a importancia da participação na vida cívica?

 

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