sábado, dezembro 31, 2005

O DESLIZE

Em entrevista ao Jornal de Notícias, o candidato presidencial Cavaco Silva reafirma uma enormidade de coisas já ditas e reditas e comete o seu primeiro grande deslize ao sugerir a criação de uma Secretaria de Estado para "fazer a lista de todas as empresas estrangeiras e, de vez em quando, falar com cada uma delas para indagar sobre problemas com que se defrontem".
Esta concepção mais paternalista e saloia do estado é tanto mais grave quanto é acompanhada da afirmação, a uma pergunta do jornalista sobre ae iria propô-la ao governo, "já estou a propor aqui".
Cavaco demonstra com estas palavras e com a negação posterior das mesmas, uma enorme falta de sentido de Estado, para além de manifestar uma abusiva leitura dos poderes constitucionais do Presidente da República. Para quem tem tentado vender a ideia que os conhece e que iria respeitá-los, caso fosse eleito, esta escorregadela só vem confirmar ou reforçar que a personalidade deste homem está mais identificada com o que é um primeiro ministro do que um Presidente à luz da nossa Constituição.
Ou será que por trás de um discurso cauteloso estão afinal outras ideias que se têm tentado esconder do conhecimento dos portugueses? Aliás na referida entrevista Cavaco denota saber mal as regras ou sabendo-as admite descaradamente não as respeitar ou pervertê-las ao assumir uma postura de ingerência no foro governativo, numa concepção clara da Presidência como ponto central do poder executivo.
Ao afirmar "Quero com isso lembrar que é o presidente que promulga as leis. E está atento a se ela pode, ou não, ferir orientações fundamentais relacionadas com o interesse nacional. Mas não utilizarei os meus poderes como arma de arremesso", Cavaco está a propor-se conduzir a política governativa. Tudo o que não encaixar naquilo que for o seu entendimento do interesse nacional, será chumbado e reprovado.
Poderá, quanto muito, permitir ao primeiro ministro a possibilidade de o convencer de que as políticas do Governo e asiniciativas legislativas, afinal são do interesse nacional.
Senhor professor Cavaco Silva, não seria muito mais honesto que, de uma vez por todas, assumisse que deseja imprimir ao funcionamento das instituições políticas uma deriva presidencialista?
Até ao dia das eleições é tempo para clarificar posições. No dia 22 de Janeiro os portugueses, estou certo, saberão fazer uma leitura correcta de tudo o que está em jogo nesta eleição presidencial e farão mais uma vez a escolha que melhor servir Portugal.

Crónica publicada no semanário "Povo da Beira" de Castelo Branco no dia 3 de Janeiro de 2006

DESTAQUE DA SEMANA



"Os portugueses têm que optar, ou ser pobrezinhos ou trabalhar mais" - Medina Carreira, fiscalista e ex-ministro, O Diabo

FRASES DA SEMANA



"Cavaco é o regresso ao eanismo"- José Lello, ex-ministro e dirigente do PS, O Independente

"Casamento só para heterossexuais é inconstitucional (artº 13)"- Jorge Lacão, secretário de Estado e constitucionalista, Diário de Notícias

"O Plano Tecnológico não é nenhuma corrida de cem metros - é uma corrida de fundo"- Carlos Zorrinho, novo responsável pelo Plano tecnológico, Jornal de Negócios

segunda-feira, dezembro 26, 2005

PRESIDENCIAIS

Economia de argumentos ou...
O ARGUMENTO DA ECONOMIA
Teminaram os dez debates previstos, entre os cinco principais candidatos presidenciais. O último, talvez o mais esperado, entre Mário Soares e Cavaco Silva decorreu num ambiente de crescente picardia entre estas duas candidaturas, apesar da época festiva que se vive.
Realmente os ânimos começam a aquecer e todos os argumentos começam a ser lançados para a discussão de forma a possibilitar que, a 22 de Janeiro, os resultados ditem uma segunda volta, apesar das sondagens teimarem em dar a vitória ao candidato da direita Cavaco Silva, logo à primeira volta.
Neste último debate ficou mais uma vez patente que os argumentos de Cavaco se limitam aos assuntos económicos, não sendo capaz de descolar de um registo mais apropriado a um candidato a primeiro ministro do que a presidente.
Mais uma vez faço notar que nesta eleição o que está em causa é a capacidade que o candidato a eleger, e espero que seja Mário Soares, vai ter para manter a estabilidade política, institucional e social, numa época que se adivinha muito conturbada, por força dos tempos difíceis que Portugal vive e que não se resolverão tão rapidamente.
Cavaco afirma querer falar do futuro para logo puxar dos galões de ex- primeiro ministro que fez e aconteceu, falando tão somente de economia, sendo incapaz de acompanhar uma conversa sobre outros temas que vão seguramente fazer parte do dia a dia de um presidente.
E neste particular Mário Soares bate-o por KO técnico. Soares deambula por toda uma diversidade de matérias, incluindo a economia, com uma desenvoltura própria de quem tem uma preparação política, cultural, económica e ocial digna de um presidente. Esta facilidade advém não só de uma preparação e experência vasta mas também de uma visão, que ele tem, de Portugal, da Europa e do Mundo, actualizada, moderna e humanista.
Não sei se este último debate terá feito alguma diferença para os resultados de Janeiro. De uma coisa não tenho dúvidas: Mário Soares é o homem certo para o lugar certo.
Cavaco terá de reavaliar os seus argumentos. Para se querer ser presidente não basta nem os argumentos da economia nem a economia de argumentos. Esses serviriam, provavelmente, para uma qualquer eleição a primeiro ministro que o professor nunca mais se atreveu a equacionar, preferindo esta eleição presidencial onde o silêncio cala mais fundo, mas onde ele está perfeitamente a perverter aquilo que é e deverá ser sempre, a função presidencial.
O presidente, à luz da Constituição portuguesa, não governa nem legisla. Governar´compete ao Governo. Legislar à Assembleia da República. O Presidente exerce tão só uma magistratura de influência, ouvindo os portugueses e as suas estruturas representativas, servindo de moderador na sociedade. Foi assim no passado e tentar perverter esta situação é não aceitar nem respeitar a Constituição da República.
Que os eleitores portugueses, em 2006, tenham a sabedoria, o discernimento e a perspicácia para ouvir no silêncio daqueles que não têm coragem para dizer abertamente o que querem e pensam e consigam contribuir significativamente para a estabilidade polítuca, institucional e social.
Crónica publicada no semanário regional "Povo da Beira" de Castelo Branco em 27.12.2005

FELIZ ANO NOVO


Tenho estado ausente deste meu espaço por razões profissionais.
Não podia no entanto deixar de desejar a todos os que aqui me visitam um ano de 2006 repleto de sucessos pessoais, profissionais e políticos, se for o caso. E não esqueçam: participar cívicamente no dia a dia de Portugal é um dever de todos.