sábado, novembro 19, 2005

GERIR O SILÊNCIO OU A ARTE DE NADA DIZER

Na passada semana aconteceu, na TVI, um episódio muito triste.
A suposta entrevista, conduzida por Constança Cunha e Sá, a Cavaco Silva transformou-se, em vez de um momento esclarecedor, num verdadeiro momento de terror.
E digo terror, porquê? Porque Cavaco ao longo de toda a entrevista, na continuação da estratégia de gerir o silêncio até ao limite, não foi capaz de trasmitir uma única ideia ou opinião sobre o que realmente pensa, sobre as diversas matérias e problemas do país. tudo respondeu com o "silêncio". Sobre o Orçamento disse nada, sobre o governo nada disse, sobre Sócrates não tem opinião, sobre a Europa não se ouviu falar, sobre o regime opinião foi coisa que não teve. Enfim Cavaco começou, finalmente, a mostrar que realmente é o campeão das não opiniões, pois nada disse sobre tudo aquilo que obrigava um candidato à Presidência da República, a ter opinião.
Foi este homem, sem opiniões, que durante dez anos foi primeiro ministro de Portugal, que nos deixou a herança de um sistema remunerativo da função pública, razão principal para os graves problemas financeiros que o país atravessa.
Como é possível que os portugueses queiram uma pessoa assim, sem opiniões, para a presidência, logo um cargo que pede e exige exactamente uma pessoa om perfil oposto.
O Presidente tem que ser alguém com as ideias bem assentes, com opinião sobre tudo o que o rodeia, seja em Portugal, seja na Europa ou no Mundo.
Falar, falar, falar. Esta a forma como Cavaco pensa motivar o país Mas como e com quem pode Cavaco falar, se fosse eleito obviamente, se agora que é tempo de falar e dar opinião, está calado. Teimosamente calado!
Só quem tem algo a esconder, é que evita falar. Que é que Cavaco esconde?
Diz que "pensa no futuro", mas não tem opiniões. Como é possível? Ou será que o homem, tecnocrata assumido, que um dia disse não ter dúvidas e não ler jornais, hoje pensa que é capaz de ser candidato presidencial, com base nas suas certezas, que afinal ninguém sabe quais são, pois Cavaco continua a não ter, ou a não querer emitir, opinões sobre coisa nenhuma.
Penso que os portugueses não vão querer, para Presidente, um homem que é um poço de certezas, mas não tem opinião. Não vão querer, certamente, um Presidente "hirto, distante e complexado". Cavaco Silva apareceu na entrevista da TVI, como referiu Mário Soares, "hirto, complexado e aflito".
Continuamos todos sem saber o que é que Cavaco pensa ou quer, para além do facto de querer ser Presidente a todo o custo, nem que para isso tenha que seguir à risca que "o silêncio é de ouro".

Não é este o Presidente que eu quero, para Portugal!
Crónica publicada no jornal "Povo da Beira" de Castelo Branco em 22 de Novembro de 2005

DESTAQUE DA SEMANA



"Eu posso achar que Manoel de Oliveira não é um génio;

mas sei também que não é um imbecil como os imbecis que o insultam" - Pedro Mexia

FRASES DA SEMANA

"Os tribunais foram transformados no cobrador do fraque. Tenho colegas com 80 mil, 90 mil processos, dos quais se calhar 97% são cobranças de cartões de crédito, de cheques e letras de não sei quê da empresa 'Viage agora e pague depois', o que faz com que para os outros 2 ou 3% não haja tempo para serem analisados" - Rodrigues Maximiano, magistrado, ex-inspector geral do Ministério da Administação Interno, Público

" A França é um caso especial: não há hoje na 'Europa' um país mais xenófobo e racista" - Vasco Pulido Valente, colunista, Público

"Gostava de ter mais Mourinhos no futebol, personalidades extraordinárias que, ás vezes, até dizem coisas que não devem" - Joseph Blatter, presidente da FIFA, Sky Sports News

"Vimos Manuel Alegre muito irritado connosco porque lhe fazemos críticas. Então, um democrata deve crispar-se só porque se confrontam argumentos, opiniões?"- Jerónimo de Sousa

domingo, novembro 13, 2005

DESTAQUE DA SEMANA


" Dentro de não muitos anos, os recursos serão tão escassos que todos seremos socialistas por instinto de sobrevivência e não por ideologia" - Leonardo Boff, teóplogo brasileiro da libertação

FRASES DA SEMANA




"O PSD vai engolir

o novo CDS" - Emídio Rangel, Correio da Manhã




"O professor Cavaco Silva é um génio da banalidade" - José Saramago, escritor, Prémio Nobel da Literatura, SIC Notícias

"Mas ainda não saímos do prof. Cavaco...É uma obsessão vossa!" - Mário Soares, candidato presidencial, à nona pergunta seguida sobre Cavaco, Visão

"Para comandante supremo das Forças Armadas eu rejeito que seja eleito Cavaco Silva" - Carlos Azeredo, general, ex-chefe da Casa Militar da Presidência, O Diabo

"Gostavam muito da 'maneira de fazer política' dele [Rui Rio], não gostavam? Pois agora aprendam" - Miguel Sousa Tavares, escritor e jornalista, Público

sábado, novembro 12, 2005

VENCER A CRISE, GANHAR PORTUGAL

Foi aprovado o Orçamento de Estado para 2006.
Pela primeira vez, desde há muitos anos, o OE traduz a verdade ds contas públicas e traça um caminho, claro e objectivo, para controlar o défice de uma forma real, sustentada e principalmente sem engenharias financeiras que "tapavam", no passado, buracos orçamentais e falseavam o valor real do défice.
É verdade que o caminho apontadop não é fácil. Mas a coragem patenteada neste Orçamento para 2006 é a garantia que os esforços feitos agora serão compensados no futuro.
A discussão do OE, na Assembleia da República, mostrou um Governo uinido, empenhado e solidário em torno de um Primeiro Ministro que, de dia para dia, se mostra aos olhos dos portugueses como um homem que tem consciência do que é necessário fazer agora para poder depois relançar o país num futuro melhor, mais igualitário, enfim como disse Diogo Freitas do Amaral tornar este país numa terra de oportunidades.

Paralelamente a este desempenho positivo do governo, assistimos a uma oposição onde à esquerda continuaram as críticas do PCP com um Jerónimo de Sousa muito activo mas com um discurso sempre igual, previsível e centrado em questões que hoje, mais não são do que reivindicações salariais daqueles que são, na sociedade portuguesa, dos menos sacrificados.
Por seu lado, o Bloco de Esquerda, parece ter-se aburguesado e perdeu todo o fulgor de outros tempos.
À direita o desempenho foi diverso. Enquanto o CDS/PP esteve uns pontos acima, com intervenções de Pires de Lima e Nuno Melo que, alguns momentos, chegaram a irritar o Primeiro Ministro, o PSD parece não conseguir libertar-se de um colete-de-forças, continuando refém de um passado recente, que nexplicavelmente continua a invocar. Sem brilho, muito contido, o PSD é a imagem do seu líder. Marques Mendes mostrou, ao longo da discussão, estar mal preparado, não ter feito o seu trabalho de casa, e logo quando o Primeiro Ministro se apresentou como um mestre da retórica parlamentar. Marques Mendes foi literalmente cilindrado na Assembleia da República, na discussão do Orçamento, por um José Sócrates, convicto, determinado e sabedor que o "seu" OE é seguramente o melhor de há muitos anos a esta parte. A comprová-lo estão todas as opiniões especializadas e avalizadas manifestadas pelos mais diversos especialistas oriundos de várias áreas políticas.

E caríssimos leitores, deixem que vos diga que a intervenção final do Ministro do Negócios Estrangeiros e Ministro de Estado, professor Diogo Freitas do Amaral foi exemplar, na medida em que foi extremamente didáctica e potenciadora de uma atitude positiva dos portugueses em relação ao seu país. se formos capazes de nos empenhar e contribuir para vencer a crise, ganharemos Portugal como terra de oportunidades, onde vale a pena viver.
É por isso que temos que lutar: Vencer a crise, ganhar Portugal!
Crónica publicada no jornal "Povo da Beira" de Castelo Branco em 15.11.2005

terça-feira, novembro 08, 2005

IDADE, UMA QUESTÃO DE EXPERIÊNCIA

Será a idade de um indivíduo, factor de experiência adquirida ou pelo contrário razão de discriminação social? Esta questão nunca esteve tanto na ordem do dia como nos tempos que correm!
Na realidade, numa sociedade como a portuguesa onde cada vez mais se trata dos nossos "velhos" como se fossem algo que incomoda, desprezando a mais valia que é, sem dúvida, a sua experiência ao longo de uma vida de trabalho nas mais diversas áreas de actividade, só assim se percebe algumas reacções à candidatura de Mário Soares.
Toda a gente de uma forma generalizada reconhecia, antes da perspectiva de uma nova candidatura à Presidencia da República, que Mário Soares era um exemplo de cidadania, coragem e determinação, face ao seu passado político, nomeadamente na contribuição que deu à Democracia portuguesa no que diz respeito à sua defesa, estabilização, consolidação e maturação.
Isto para não falar nos dez anos em que ele exerceu o cargo de presidente da República, mostrando aos portugueses que o poder não tem que ser algo de arrogante, aliás nas melhores tradições do que é ser republicano.

O que choca é que logo que se colocou a perspectiva da sua candidatura, muitos dos que antes idolatravam o seu desempenho na vida política activa, logo saltaram a terreiro defendendo que um homem da sua idade deveria estar quieto e gozar a "velhice" na calma e sob os auspícios da sua Fundação.

Num país que tão mal trata os seus "velhos", e os exemplos estão aí um pouco por todo o lado, basta visitar alguns lares do nosso distrito para logo ter uma fotografia do que é a realidade a nível nacional, uma candidatura de um homem com a experiência de vida e política de Soatres, deveria ser motivo de orgulho e razão de motivação para um combate político sério, fossem quem fuem fossem os adversários que se perfilassem nesse combate.
Não, mais uma vez os valores e argumentos mais mesquinhos da sociedade portuguesa vêm ao de cimo e aquilo que desde o princípio deveria ser um combate digno para todas as partes, está desde já inquinado por uma candidatura de direita, que mais não é do que a candidatura do poder económico que tem vindo a transformar o país, num instrumento de domínio político e económico, que mais do que os interesses do país e da esmagadora maioria da sua população, vê os seus próprios interesses que se traduzem nas sua contas bancárias e nas contas que detêm nos paraísos fiscais.
Basta olhar para as comissões de honra dos dois candidatos, Mário Soares e cavaco Silva, para ver a diferença e a génese das duas candidaturas. Numa, a de Soares, vê-se o que de melhor existe na sociedade portuguesa a nível de cultura, ciência e desporto e oriunda dos mais diversos campos políticos, na outra, a de Cavaco Silva vê-se basicamente ex-ministros do seu tempo de "político não profissional", hoje em lugares chave do poderio económico que domina o país e todo um leque de gestores e patrões dos grandes grupos económicos, incluindo a banca que são quem domina a economia de um Estado fraco, que eles próprios construíram para conseguirem mais facilmente alcançar as posições dominantes que hoje detêm.
E se a candidatura de mário Soares os assusta por alguma razão deve ser. Porque eles sabem que Soares pode ser um travão à sua vontade de pagar uma dívida a Cavaco Silva. A dívida que consiste exactamente no facto de hoje deterem o poder, da forma como o detêm. Conquistado á custa das finanças do país e dos bolsos dos portugueses.
Se hoje os esforços são aqueles que todos conhecemos, para recolocar as finanças públicas no equilíbrio que sempre deveriam ter tido, uma grande parte desse esforço podemos agradecer a Cavaco, aos seus governos enquanto primeiro ministro não profissional e a todos aqueles que fizeram do cavaquismo, a forma mais fácil de atingir os seus mais obscuros desígnios.

Não venham agora chamar a Mário Soares velho. Como dizia há uns dias Mário Mesquita, Soares é mais jovem do que alguns que têm menos dez ou quinze anos do que ele. E é bem verdade.
Quem teve oportunidade de o ver ao vivo nestes últimos dias, como eu tive, pode constatar isso mesmo. Soares está, apesar da idade, pronto para um combate político que será difícil mas para o qual está tão motivado, como aquele que o levou em 1986 à Presidência da República pela primeira vez.
Força Soares!
Crónica publicada no jornal "Povo da Beira" de Castelo Branco em 08.11.2005

sábado, novembro 05, 2005

UM CHEIRINHO A SOARES

Esta semana fica, desde já, marcada pelo "arranque" decisivo de Mário Soares na corrida para a Presidência da República.
Com as entrevistas, à Visão e ao jornal nacional da TVI, Soares parte para a luta com a determinação, a força e o apuro que lhe são habituais, colocando o seu feeling, que parece estar no seu melhor, à frente de qualquer outra indicação ou conselho.
A marcação a Cavaco é evidente, mas necessária, já que o seu adversário continua a resguardar-se no seu silêncio, cada vez mais anti-democrático.
Sabendo das suas fraquezas Cavaco e os seus seguidores, apostam no silêncio anti-democrático para evitar derrapagens comprometedoras, que poderiam contribuir para resultados imediatos perigosos, na sua estratégia delineada com pormenor vai para muitos anos.
Trazer Cavaco para o debate, para o confronto político, é pois uma tarefa prioritária, de forma a desmistificar todo este silêncio, e colocando todos os candidatos ao mesmo nível.

FRASES DA SEMANA



"Não sei se poderá vir a ser o seu coveiro, mas sei que a Justiça, em Portugal, pode ser a doença fatal da democracia" - António Barreto, comentador, Público

"Então ele não foi dez anos primeiro - ministro e não recebe a reforma de ex - primeiro - ministro?" - Mário Soares, sobre Cavaco afirmar que não era político profissional, 24 horas

"Nunca fiz parte da corte de Soares" - Manuel Alegre, candidato presidencial, Visão

terça-feira, novembro 01, 2005

RETRATO DE MÁRIO ENQUANTO MÁRIO

" E talvez seja a grande revolução que ele fez num país cansado de crispação: trazer a afectividade para a política. É, a par da coragem, a sua arma mais eficaz. E por isso ele é de facto, irresistível. E também imprevisto. Com o Mário, o inesperado pode sempre acontecer.
Desenganem-se os que o julgam sentado sobre uma por vezes aparente lassidão. De repente ele salta. Para sacudir o marasmo e de novo forçar o destino. Sempre que tal acontece, o telefone toca em casa de alguns amigos. Fica-se então a saber que há uma nova caravela e uma nova partida. Às vezes um combate. Às vezes um desígnio, um sonho, uma inquietação, o que é também uma forma de poesia". - artigo intitulado Retrato de Mário enquanto Mário, incuído no livro Retrato (livraria Clássica Editora, 1990) da autoria de Manuel Alegre.